de cabeça erguida

Também eu em tempos fui assim, cabisbaixa, triste, de orgulho fragilizado...
Ela julgavasse incompreendida mas no fundo eu sabia aquilo que por ela estava a passar, esse rito de passagem entre o conto de fadas e a realidade nua e crua.
Também eu em tempos sofri de insónias e falta de apetite, todos diziam que eu estava doente mas eu sabia que não, nenhum daqueles sintomas tinha algo a ver com o meu estado físico, tinha e tem tudo a ver com ele, ele é a minha doença.
Quantas vezes não me passou pela cabeça terminar com o sofrimento da maneira mais fácil, quantas vezes não me passou pela cabeça desistir de vez e partir para outra na esperança de nascer de novo, com uma vida mais fácil... Mais justa...
Mas um dia alguém disse que quem ama, luta e mesmo assim perde tem o direito de andar de cabeça erguida, ser senhora de si, com passos confiantes e acho que uma das muitas razões pela qual não levei a cabo as minhas ideias foi essa, o previlégio de mostrar aos outros que sobrevivi e que no fundo, sou inabalável, de forma que eu ando de cabeça erguida, só espero que um dia também ela o faça...

melhor amiga

Nunca fui muito religiosa, se tiver de ser agora, apenas para agredecer o facto de me terem dado uma melhor amiga como tu, faço-o.
Tu és sinónimo de sorrisos e felicidade, pura diversão e por muito que tente agradecer (seja a quem for) por te ter, não consigo, não por falta de coragem ou por achar que não mereçes mas por não haver palavras suficientes que descrevem a minha gratidão por ter alguém como tu, para me limpar as lágrimas e me encher de sorrisos, sinceros sorrisos.
Dói por vezes pensar que nada é para sempre e dói muito mais imaginar-me sem te ter a meu lado.
Cada tarde, noite, sorriso, abraço, beijinho, parvoice, saida, palavra e momento é precioso, eu não trocaria nada disso por nada.
Se tiver de chamar irmã a alguém é a ti.
Meu orgulho, obrigada por tudo, aconteça o que acontecer, nunca te esquecerei.

tenho medo

O que eu dava para ter mais um ou dois minutinhos contigo, aliás, o que eu não daria para ter uma vida inteira a teu lado mas pelos vistos, isso é pedir de mais, portanto acho que tenho pelo menos direito a este curto espaço de tempo (um ou dois minutinhos), sinceramente, não sei porque ainda tenho esperanças que te lembres disto e venhas aqui para ver se escrevi alguma coisa depois do que aconteceu, não sei mesmo mas algo me diz que devo continuar a escrever e por isso vou tentar dizer tudo aquilo que tu não quiseste ouvir.
Eu merecia melhor, talvez merecesse mas eu não quero melhor, tu fazias-me feliz com tudo o que me davas, até as pequenas coisas, tu punhas-me logo bem disposta apenas pelo simples facto de vires ter comigo de manhã, ainda que fosse rápido, tu vinhas, era isso que importava.
Desifectaste as minhas feridas e curaste-as e na altura, eu não sabia como te agradecer, ainda mesmo que não soubesses que o tinhas feito, mas, abris-te novas e arrependido por isso, fechaste-as logo a seguir, prometendo-me coisas que no fundo, ambos sabíamos que provavelmente nunca cumpririas mas mesmo assim, eu, que sempre fui pessoa de acreditar em excepções, acreditei em todas essas promessas e entreguei-me a ti, por completo.
Não as cumpris-te e apesar de já ter considerado que isso pudesse acontecer, desiludiste-me e para além disso, partiste-me o coração da mesma forma que eu me entreguei a ti: por completo.
O que eu queria mesmo dizer-te é que tenho medo, deves achar idiota dizer-te isto porque não é novidade, sempre o tive mas desta vez é um medo diferente:
Eu tenho medo que te esqueças de mim, tenho medo que passes por mim na rua e já nem te lembres de quem sou, tenho medo que não fales de mim a ninguém, que me guardes simplesmente como uma má recordação, ou apenas como uma experiência muito produtiva, como dizias... E tenho medo que passes por mim de carro e vires a cara e tenho medo que um dia já não te recordes das horas que passámos naquelas escadas de pedra ou do dia em que me fizeste fazer escalada e sobretudo tenho medo que te esqueças que eu se te vir na rua vou-me lembrar de quem és e vou logo falar-te e tenho medo que te esqueças que vou falar de ti e toda a gente e te vou guardar sempre como uma boa recordação e tenho medo que te esqueças que se passares por mim de carro eu vou-te acenar ou que te esqueças que eu nunca vou esquecer aquelas duas tardes e sobretudo que aches que o primeiro amor não passa disso, do primeiro, porque tu foste mais que isso, muito mais.

saudades

Tenho saudades de tudo em ti, em nós (...)
Tenho saudades de te dar beijinhos no nariz e de te olhar nos olhos, tenho saudades de quando encostavas a cabeça no meu peito e dizias "tens o coração tão acelarado!", tenho saudades de quandos sorrias para mim e dizias que eu era a tua princesa. Lembras-te? E lembras-te quando eu dizia que só te faltava o cavalo branco? Lembras-te de todos os sonhos de que falámos naquela escada de pedra? Lembras-te sequer de como éramos felizes?
Aposto que nem sonhas que mostrámos a algumas pessoas como uma pessoa pode ser tão importante na vida de outra, aposto que nunca sequer te deste conta, do quão importantes éramos (...) um para o outro.
Aprendi muito contigo, mais do que possas imaginar.

tristeza

Tristeza faz com que o lápis já não toque na folha branca com a mesma intensidade, como se inspiração já não existisse, de facto, já não existe mesmo.
"Tens um buraco na alma." disse-me ela uma vez e só nesse momento me apercebi da realidade esmagadora das suas palavras, eu costumava ouvir as suas palavras, é verdade, e sempre lhes dei um valor incalculável mas naquele dia ela captou toda a minha atenção como nunca antes quando proferiu aquelas palavras, sim, ela tinha razão, ele fechou uma ferida e abriu outra, mesmo ao lado, roubou um pedaço de mim, abriu-me um buraco na alma.

imagens

Debruçaste-te sobre mim e tocas-te com os teus lábios nos meus, foi rápido mas mesmo assim atingiu-me com uma profundidade esmagadora.
Imagens.
Prometes-te que não ias voltar a desistir, nunca mais...
E mais umas vez, imagens.
Agarraste-me na cintura e deste-me um beijo na bochecha, era essa a tua forma de dizer que estava tudo bem...
De novo, imagens.
Brincavas com as madeixas do meu cabelo...
Imagens, imagens, imagens, neste momento não passam disso, de imagens...
Nunca fui capaz de as esquecer... Como é que tu foste?

custa...

Custa a crer, já me belisquei e dei montes de voltas à cabeça, infelizmente é verdade... É tudo verdade e eu não vejo forma de remediar isso.
E custa a esquecer, custa a esquecer todas as tardes e as horas lindas que passámos juntos e custa mesmo a acreditar que acabaram, que deixaram de ter significado como folhas de papel esquecidas sobre uma mesa, custa a mentalizar, custa imenso...
E custa saber que esta é a única forma de crescer e aprender com os nossos próprios erros, esta forma tão cruel e injusta, tão dificil...
Devo-te mil obrigadas, mil amo-tes mas sobretudo mil desculpas e mesmo assim... Não sei se é suficiente.

opostos

Ele gostava de vermelho e ela de verde, ele gostava de futebol e ela de dormir, ela gostava de coisas frias e ele de coisas quentes, ele gostava de café, ela preferia chá.
Discutiam por vezes, não estavam de acordo em todos os aspectos da vida mas também se riam em conjunto e todas as manhãs faziam o pequeno almoço um ao outro.
Ele dizia que queria ir embora, ela dizia que queria ficar, ele fazia as malas, elas desfazia-as, ele gostava de ver o telejornal, ela dizia que era uma perda de tempo, ele queria arroz e ela fazia massa, ela vestia calças e ele pedia para ela vestir saias, ela queria sair e ele ficar em casa, dormiam na mesma cama mas cada um para seu lado, esquerda e direita, ying e yang, eram diferentes em maior parte dos aspectos, mas não se julgavam, gritavam um com o outro, batiam com a porta até por vezes mas voltavam sempre ao mesmo porque numa coisa eles estavam plenamente de acordo, eles não viviam um sem o outro.
Os opostos atraem-se, eles eram a prova disso.

inferno

Apesar de ser uma patetice o que vou dizer, o inferno não precisa de chamas para ser inferno e as fridas não precisam de ser queimaduras para deixar uma marca definitiva, no entanto, precisam de ser profundas, isso sim, tudo aquilo que nos bate no fundo deixa marcas eternas.
Se eu tenho alguma dessas? Tenho, é pequenina mas isso é o menos, é profunda, ou seja, é eterna.
Já tentei apagá-la, escondê-la mas quanto mais o faço mais ela se mostra em todo o seu esplendor, desisti, é inútil tentar eliminar algo que simplesmente não desaparece e se querem que vos diga, já não tenho qualquer esperança no que toca a esse pequeno apêndice no meu corpo, essa pequena cicatriz que não tende em desaparecer.
Uma coisa é a frida, a outra é a dor e os efeitos, doeu, já não dói, mas deixou efeitos, pesadelos, lágrimas, sintomas duvidosos de um coração que diz já ter sido curado.
O cenário, inferno, é forte, quase exagerado mas não sei o que dizer mais, inferno, é isso, só.
Menti, na parte em que disse que já não tinha qualquer esperança em relação àquela pequena cicatriz, no mesmo dia que me a fizeram, ensinaram-me que nada dura para sempre, pode haver excepções, mas dúvido que esta seja uma delas.

Mal puderes tenta curar-me.

é estranho

Não me percebo, ando perdida, disses-te que vinhas e eu nem me arranjei, vagueio pela casa com uma garrafa de sumo na mão e o cabelo despentiado, só calçei o chinelo do pé esquerdo, a campainha está a tocar à meia hora, talvez sejas tu, não sei, não me apetece atender, pus o telefone no silêncio e deitei-me sobre a carpete branca, fiquei a mirar o tecto, fecho os olhos e tento relembrar coisas boas, ocorrem-me imensas, apesar de tudo todas as memórias que tenho são boas, porque em parte entras em quase todas elas, respiro fundo, não vale a pena duvidar de nada, tenho provas mais que suficientes que tudo isto é real, eu não estou a sonhar.
Oiço o trinco da porta, não me mexo, mesmo que venham assaltar a casa, sinto que nada me pode magoar, só mesmo tu.
Sentas-te ao meu lado e eu abro os olhos ao de leve, esqueci-me que tinhas uma cópia da chave, aliás de todas as chaves.
- Diz que me amas - Pedi.
- Como?
- Usa palavras...
- É estranho.
- Os teus gestos também são estranhos.
- Mas são sinceros.
De súbito, abro os olhos como se tivesse sido apanhada de surpresa, vejo-me aterrorizada com a realidade das tuas palavras.
Beijas-me.
- Chega? - Perguntas.

no fundo, tenho saudades

Parece que o tempo passou muito lentamente mas agora que vejo, foi há pouco tempo. Só não compreendo como é que as coisas que dizemos ser para sempre acabam assim, sem razão.
Assumo que talvez agora estejas melhor, mais feliz mas eu tenho saudades, no fundo, tenho saudades, apesar de tudo o que te chamo, de todas as coisas que digo de ti e de todas as vezes que afirmo que foi melhor assim, eu estou a mentir, porque eu daria o mundo para voltar a ver o teu rosto, para voltar a abraçar-te.
Lembras-te do caderno que me pedis-te para fazer? Tenho-o guardado, na esperança que um dia voltes e queiras vê-lo.
No fundo eras como uma irmã e ainda hoje nas situações complicadas penso sempre, "o que faria ela?" e na maior parte das vezes arranjo solução.
Ensinaste-me tanta coisa, a ser forte, a amar, a insistir, a distinguir o certo do errado, a pensar duas vezes mas nunca me ensinas-te a superar a saudade, quem ensinará então?

metade

Dizem por ai que é dificil encontrar-mos aquela pessoa que nos completa, que consegue ver-nos tal e qual como nós somos, que consegue descobrir todos os nossos defeitos e mesmo assim achar-nos excelentes, aquela pessoa com quem ultrapassamos tudo e no final parece não ter sido nada porque no fundo o amor é tão grande que não significou nada mesmo, dizem até que demoramos muito tempo a encontrar essa nossa metade, discordo, eu demorei doze anos e não considero que isso tenha sido muito tempo.

um sonho

A sua pele dele era dura como mármore e a sua tonalidade quente assim como a sua cor, o seu olhar sobre o meu tinha um poder quase tão intenso como a luz do sol e a sua voz tinha um tom hipnotizante e suave como seda, o seu toque era quase tão marcante como fogo sobre a pele e ao mesmo tempo doce como mel, os seus lábios estavam perfeitamente esculpidos e pareciam adaptar-se aos meus com uma facilidade incrivel, ele transpirava beleza e demonstrava perfeição em cada traço, a sua personalidade era forte e delicada, com um toque de charme em cada promenor.
O sorriso, ele esboçava-o perfeitamente e na maior parte das vezes com a maior sinceridade possivel, era uma das coisas que eu mais apreciava nele aseguir à sua forma de ser, um sonho, foi a palavra que eu encontrei para o descrever adequadamente, encaixa na perfeição, não acham?

a vida e a morte

Um leve toque, um leve corte, as coisas podiam ter acabado ali, era no minimo fácil.
A dor era passageira comparada com a que era sentida, nem precisava de sangrar muito, só o suficiente para pôr um ponto final naquela situação, naquela indecisão entre o certo e o errado, a necessidade e o capricho, a vida e a morte (...)
Correram lágrimas sinceras do seu rosto, sentia-se aliviada e ao mesmo tempo presa, continuava a haver qualquer coisa que a mantia ali, qualquer coisa que a impedia de rasgar a pele sensível com a ponta de metal afiada e acabar com todo o sofrimento, a razão era que ele também a amava e por isso mesmo ela via-se obrigada a pensar duas vezes antes de tomar qualquer decisão.
Ouvia na sua cabeça o eco das vozes que lhe tinham dito que o tempo curava tudo mas ela sabia que não curava porque ela já tinha esperado demasiado tempo, já tinha passado demasiado tempo e a cicatriz continuava lá, no mesmo local, a frida continuava aberta e a dor era a mesma, ela não percebia mas talvez o tempo fosse diferente para ela, talvez não passasse da mesma forma ou então era simplesmente injusto, como tudo o resto e mais uma vez ela encontrava inúmeras razões para acabar com aquilo e quando estava prestes a fazê-lo a outra razão, aquela razão abafava todas as outras, ela queria ir mas precisava de ficar porque ele também a amava.
Olhou para as mãos dormentes e pegou na lâmina, fez um leve corte no pulso e atirou-a para longe, nem chegou a sangrar, não era suficiente, o corte não era profundo, profundo como as razões que a levavam a fazer aquilo, profundo como a frida que tinha no peito.
Pensou em levantar-se e apanhá-la para finalmente terminar o que tinha começado mas não teve coragem porque pensou nele e pela primeira vez em muito tempo lembrou-se das coisas boas e esqueceu as más. Pegou numa folha de papel e tentou escrever-lhe um bilhete mas já não tinha força nas mãos, as pernas tremiam e os seus olhos estavam verdes como jade de tanto chorar, desistiu da ideia e apoiou os pés descalços na pedra fria do chão e levantou-se, levantou-se e abandonou aquele local, queria ir ter com ele mas sabia que ele não a ia ouvir, ela sabia que ele não a ia compreender e então sentou-se de novo, apenas uns metros mais à frente do local inicial e foi ai, foi ai que fez o segundo corte, o corte que decidiria finalmente que lado tomar, o certo ou o errado, a necessidade ou o capricho, a vida ou a morte.
Observou o rasgão na sua pele e admirou o liquido vermelho que por ela escorria, sentiu-se aliviada e mais uma vez, presa, continuava a ser ele a razão de tanta indecisão, continuava a ser ele a barreira o certo e o errado, a necessidade e o capricho, a vida e a morte.
De repente, ela sentiu-se a morrer, fechou os olhos e aos poucos foi percebendo, aquilo não era o certo, era o errado, aquilo não era a necessidade, era o capricho, aquela não era a vida, era a morte, ele sim, era o certo, a necessidade, a vida, ele sim, porque ele também a amava...